domingo, 18 de julho de 2010

MOV01489-FERRY-BOAT-SETÚBAL-TRÓIA.MPG

2 comentários:

  1. Da pompa
    incomparável
    engalanados
    lírios.
    -
    Com saudades morre o entardecer.
    Ao plátano folha cai.
    Num raminho saltita um pardalito.
    Perto vagueando perdem-se bambinos.
    A sonhar bicicletas loucas uns pedalam.
    Nuvens cor a café com leite imobilizam.
    -
    Folhagem bailando ao quê da luz;
    jovens p’lo clima ameno
    a tudo atiçam fulgurações;
    um dia desperta expandindo-se
    a apelativos recantos.
    -
    Esfuziante alvura a nascente;
    quase nos faltam olhos,
    tamanho é o milagre.
    58
    -
    Cogitam pardos patos
    enquanto nadam?
    -
    Barcos atracados,
    às ondas, por margens.
    -
    Das giestas
    amarelidão.
    -
    ‘El mar del corazón late despacio,
    en una calma que parece eterna.’
    Com pasmo se alonga o meu olhar
    pra perder-se na lisura do horizonte.
    Sejam plenos, fundos, estes dias,
    na leveza imersos encham alma,
    renasçam do vago alumbramento.
    -
    ‘Por cada flor estrangulada
    há milhões de sementes a florir.’
    Ergue-te, novo sol,
    a lourecer cantos.
    -
    ‘As estrelas mortas
    apagam-se aos molhos.
    Vem, lume perdido,
    florir-nos os olhos.’
    Recreiam-se florações a lonjuras.
    Reacendem-se após doença
    felizes enamoramentos.
    -
    Sol sumido sob o poente,
    a flor do mar a tanger-nos ainda.
    -
    A claridade
    imbricando suavidades.
    -
    ‘Sol nulo dos dias vãos,
    cheios de lida e de calma.’
    Contudo aqueces as mãos,
    contudo animas a alma,
    contudo, abrindo à nudez,
    mil frémitos acirras.
    59
    -
    Lobo no covil, o coiraçado poeta,
    fugidias imagens perpassando-lhe retinas,
    alucinantes incêndios versifica.
    -
    Cenário dos dias,
    vazio imenso borbulhante,
    vinho rubro ante o olhar metralhado.
    -
    Talvez lá tenhamos andado a sol e água,
    no pleno fogo estival, por essas Ilhas Comores.
    Ou talvez lá tenhamos deixado o errante olhar
    p’la extasiada plenitude;
    ou um breve relance lançado a mar:
    Grande voo a sonhos, leves asas, acalmia, velas,
    numa curva dalguma estrada rente ao oceano
    mais do que pacífico, por onde alheadamente
    hajamos derivado. Ou talvez que, desfeita mortal tenda,
    por lá prossigamos indefinidamente.
    -
    Hoje, à plenitude do espírito,
    deixe imprimirem-se-me
    paisagens intocáveis.
    A calada presença constrange
    a pôr final registo,
    e louvar quanta maravilha.
    -
    Por uma força maior
    até aos vãos dO Deus
    ecos se acumulam,
    porções epopeia,
    considerável sobra.
    -
    Olhes árvores
    resplendendo p’los passeios,
    e intentes nítidas leituras.
    -
    A partir de agora
    se aclare
    a etérea rede
    enredada
    a alvorecer
    milénio novo.
    60
    -
    O todo envolvente eterno,
    onde os olhos abrasam,
    o coração estremece,
    o verso vejo.
    Deus se lê,
    ossos florescem,
    gorjeios soam,
    paz acontece,
    aos pássaros música.
    O filme dos dias,
    morte,
    erva tenra,
    viçosa esperança.
    Ladainhas
    se rezam,
    linguagens
    apontam,
    devaneios
    sorrateiros
    espreitam,
    o sonho mora,
    o claro desenrola
    candura nada.
    Onde descanso afã,
    alço-me a estrelas,
    das flores vou indo.
    Brinco menino,
    cavalgo infante,
    homem sigo,
    ancião assento.
    Entrementes
    redigo
    cinza, pó,
    alento, jeito,
    ante o tudo
    de mim
    mudo.
    -
    Gato brinca amanhecendo,
    esquivo pássaro afoga-se
    na aérea luz.
    -

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