Da pompa incomparável engalanados lírios. - Com saudades morre o entardecer. Ao plátano folha cai. Num raminho saltita um pardalito. Perto vagueando perdem-se bambinos. A sonhar bicicletas loucas uns pedalam. Nuvens cor a café com leite imobilizam. - Folhagem bailando ao quê da luz; jovens p’lo clima ameno a tudo atiçam fulgurações; um dia desperta expandindo-se a apelativos recantos. - Esfuziante alvura a nascente; quase nos faltam olhos, tamanho é o milagre. 58 - Cogitam pardos patos enquanto nadam? - Barcos atracados, às ondas, por margens. - Das giestas amarelidão. - ‘El mar del corazón late despacio, en una calma que parece eterna.’ Com pasmo se alonga o meu olhar pra perder-se na lisura do horizonte. Sejam plenos, fundos, estes dias, na leveza imersos encham alma, renasçam do vago alumbramento. - ‘Por cada flor estrangulada há milhões de sementes a florir.’ Ergue-te, novo sol, a lourecer cantos. - ‘As estrelas mortas apagam-se aos molhos. Vem, lume perdido, florir-nos os olhos.’ Recreiam-se florações a lonjuras. Reacendem-se após doença felizes enamoramentos. - Sol sumido sob o poente, a flor do mar a tanger-nos ainda. - A claridade imbricando suavidades. - ‘Sol nulo dos dias vãos, cheios de lida e de calma.’ Contudo aqueces as mãos, contudo animas a alma, contudo, abrindo à nudez, mil frémitos acirras. 59 - Lobo no covil, o coiraçado poeta, fugidias imagens perpassando-lhe retinas, alucinantes incêndios versifica. - Cenário dos dias, vazio imenso borbulhante, vinho rubro ante o olhar metralhado. - Talvez lá tenhamos andado a sol e água, no pleno fogo estival, por essas Ilhas Comores. Ou talvez lá tenhamos deixado o errante olhar p’la extasiada plenitude; ou um breve relance lançado a mar: Grande voo a sonhos, leves asas, acalmia, velas, numa curva dalguma estrada rente ao oceano mais do que pacífico, por onde alheadamente hajamos derivado. Ou talvez que, desfeita mortal tenda, por lá prossigamos indefinidamente. - Hoje, à plenitude do espírito, deixe imprimirem-se-me paisagens intocáveis. A calada presença constrange a pôr final registo, e louvar quanta maravilha. - Por uma força maior até aos vãos dO Deus ecos se acumulam, porções epopeia, considerável sobra. - Olhes árvores resplendendo p’los passeios, e intentes nítidas leituras. - A partir de agora se aclare a etérea rede enredada a alvorecer milénio novo. 60 - O todo envolvente eterno, onde os olhos abrasam, o coração estremece, o verso vejo. Deus se lê, ossos florescem, gorjeios soam, paz acontece, aos pássaros música. O filme dos dias, morte, erva tenra, viçosa esperança. Ladainhas se rezam, linguagens apontam, devaneios sorrateiros espreitam, o sonho mora, o claro desenrola candura nada. Onde descanso afã, alço-me a estrelas, das flores vou indo. Brinco menino, cavalgo infante, homem sigo, ancião assento. Entrementes redigo cinza, pó, alento, jeito, ante o tudo de mim mudo. - Gato brinca amanhecendo, esquivo pássaro afoga-se na aérea luz. -
Da pompa
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engalanados
lírios.
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Com saudades morre o entardecer.
Ao plátano folha cai.
Num raminho saltita um pardalito.
Perto vagueando perdem-se bambinos.
A sonhar bicicletas loucas uns pedalam.
Nuvens cor a café com leite imobilizam.
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Folhagem bailando ao quê da luz;
jovens p’lo clima ameno
a tudo atiçam fulgurações;
um dia desperta expandindo-se
a apelativos recantos.
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Esfuziante alvura a nascente;
quase nos faltam olhos,
tamanho é o milagre.
58
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Cogitam pardos patos
enquanto nadam?
-
Barcos atracados,
às ondas, por margens.
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Das giestas
amarelidão.
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‘El mar del corazón late despacio,
en una calma que parece eterna.’
Com pasmo se alonga o meu olhar
pra perder-se na lisura do horizonte.
Sejam plenos, fundos, estes dias,
na leveza imersos encham alma,
renasçam do vago alumbramento.
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‘Por cada flor estrangulada
há milhões de sementes a florir.’
Ergue-te, novo sol,
a lourecer cantos.
-
‘As estrelas mortas
apagam-se aos molhos.
Vem, lume perdido,
florir-nos os olhos.’
Recreiam-se florações a lonjuras.
Reacendem-se após doença
felizes enamoramentos.
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Sol sumido sob o poente,
a flor do mar a tanger-nos ainda.
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A claridade
imbricando suavidades.
-
‘Sol nulo dos dias vãos,
cheios de lida e de calma.’
Contudo aqueces as mãos,
contudo animas a alma,
contudo, abrindo à nudez,
mil frémitos acirras.
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Lobo no covil, o coiraçado poeta,
fugidias imagens perpassando-lhe retinas,
alucinantes incêndios versifica.
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Cenário dos dias,
vazio imenso borbulhante,
vinho rubro ante o olhar metralhado.
-
Talvez lá tenhamos andado a sol e água,
no pleno fogo estival, por essas Ilhas Comores.
Ou talvez lá tenhamos deixado o errante olhar
p’la extasiada plenitude;
ou um breve relance lançado a mar:
Grande voo a sonhos, leves asas, acalmia, velas,
numa curva dalguma estrada rente ao oceano
mais do que pacífico, por onde alheadamente
hajamos derivado. Ou talvez que, desfeita mortal tenda,
por lá prossigamos indefinidamente.
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Hoje, à plenitude do espírito,
deixe imprimirem-se-me
paisagens intocáveis.
A calada presença constrange
a pôr final registo,
e louvar quanta maravilha.
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Por uma força maior
até aos vãos dO Deus
ecos se acumulam,
porções epopeia,
considerável sobra.
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Olhes árvores
resplendendo p’los passeios,
e intentes nítidas leituras.
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A partir de agora
se aclare
a etérea rede
enredada
a alvorecer
milénio novo.
60
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O todo envolvente eterno,
onde os olhos abrasam,
o coração estremece,
o verso vejo.
Deus se lê,
ossos florescem,
gorjeios soam,
paz acontece,
aos pássaros música.
O filme dos dias,
morte,
erva tenra,
viçosa esperança.
Ladainhas
se rezam,
linguagens
apontam,
devaneios
sorrateiros
espreitam,
o sonho mora,
o claro desenrola
candura nada.
Onde descanso afã,
alço-me a estrelas,
das flores vou indo.
Brinco menino,
cavalgo infante,
homem sigo,
ancião assento.
Entrementes
redigo
cinza, pó,
alento, jeito,
ante o tudo
de mim
mudo.
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Gato brinca amanhecendo,
esquivo pássaro afoga-se
na aérea luz.
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http://www.youtube.com/watch?v=KbRb9a6l2xU
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