quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Poema1

2 comentários:

  1. Ruir o interior dos ouvidos -
    tabiques - areia - cal - sons esquecidos.
    Pedras sobre pedras, os dias asfixia - as palavras iguais sob o ruído.
    Abismo das folhas - Março ou Abril - o Jardim Botânico.
    Todo o peso do rosto nas costas das mãos.
    Rombos sombra - o retrato repete a abrupteza.
    Velas - borrões - gente - 4 quilómetros pela barra.
    Do mundo dos meses - telhas - papoilas - grades - tenazes.
    Telhas - côncavas - convexas - convexas - côncavas.
    Vertigem - fontes desmemoriadas - tudo - súbito.
    A raiz dos ouvidos - árvores - ontem - candeeiros - sinos.
    Exaustão - urzes onde os nervos verdes.
    Uma vez um olhar - jogo água - as cordas febris - o violino.
    Tijolos - estores - redes - andares de casas -
    espaço escuro ante a parede branca.
    Aereza - torpor surdo no cérebro - o ruído de sílabas dentro de mim.
    Triângulos - trapézios - Mozart. Montes - lamas - dorsos - dromedários.
    Azuis tons - Klee - the musician.
    Estes versos torpes - malmequeres - muros - vento - mudez.
    O coração bater num cubo fechado - corredores sob corredores dor.
    Horas trevas - objectos limite - descenso dos sons num poço sem fundo -
    três vezes Z cinzento.
    Luzes facetando-se - um clown equilibrando-se num arame cortante -
    quase nada - infinitamente.
    Os dias seguidos - agudezas - dedos - losangos - vidros.
    Crueza - grãos poeira - partículas caspa - caracteres tipográficos.
    O soalho - agulhas - sons opacos -
    os nomes das pessoas conhecidas nas paredes.
    Os nós dos ossos dos dedos - o peso dos ombros.
    Roseiras - barro - lájeas - garagens - ouvidos ar.
    Os cabelos soltos - a nuca - nunca - sim - hoje.
    Verde a relva - verde a relva - verde.
    I know your name. Your name Is. I know. You know. I know.
    Os ferros - os cimos altos - eu sei - não sei - as horas deslumbradas.
    De átomos átomos - de constelações constelações.
    Obsessão dos sons - os cotovelos roendo-se nas janelas.
    A manhã - a cidade - larga a avenida.
    O telhado - da chaminé a cal - o beiral de lata -
    a lonjura branca - a gelosia. O ângulo da mesa - o azul e…
    Flamingos - lagos - voos - cortinas - dedos - unhas.
    Pouco a pouco o poema trabalho.
    Braços - tijolos - redes - mínimas gotículas - duma criança a fala.
    Estradas - bicicletas - letras.
    Tectos - estantes - portas - carris - lápis - estrela.
    Escusado dizer noite.
    Na areia o sol por entre os ramos d’ar.
    Escadas - chuva - resto de rio que vi.
    As mãos - o alcatrão - um operário - o corpo - a sombra - um cigarro.
    Aço - tábuas - inexistência. Ponte - longe perto vultos - areal.
    As palavras que faltavam - as palavras que faltavam -
    Maria - Manuel - Deus connosco.
    Rapariga - rosto - olhar - uma vez - para sempre.
    Cândido Portinari Cândido - duma cor doutra - uma cor noutra - neutra.
    Ouvi meu canto - ouvi meu canto - ouvi.
    Irrepetíveis voos - um número indefinido de versos desiguais.
    Canaviais - juncos - vento - vimes. Òòa - aòr - o terraço.
    Esguios choupos no ar nublado.
    A instantes existo e o azul - a terra barrenta além - a pele.
    O poema sucedendo-se sob estrelas.
    Restolho - fragas - estevas - vasto negrume - extensa noite.
    Aéreos suspensos lapsos.
    Ausência - montes - o poema quarto. Os sapatos - os óculos - os anjos.
    Um naco suado de pão. Ámen.
    O tempo - do Deus o tempo. Esse tempo - este tempo.
    Kz-kv-z. Oh.

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