quinta-feira, 14 de outubro de 2010

MOV04100-poema do boi da paciência português de ochoa.MPG

1 comentário:

  1. ‘Meus amigos, que desgraça nascer em Portugal.’
    Boi da paciência, que sempre reencontro,
    amo-te, e detesto-te até ao vómito.
    Quisesse afagar-te os vis corninhos,
    e ririas melífluo, como quem padece coceguinhas.
    Conheço-te bem demais, engenhoso atávico ruminante.
    Conheço e reconheço ‘teu minucioso e porco ritual.’
    E ainda aí estás, a ti igual: Anos 0, anos 60.
    Marras agora, como já antes marravas,
    no tempo em que te detectaram O’Neill e Ramos Rosa.
    Pronto resmungas, desmaias, fazes que desfaleces;
    como em derriço; como se te sorrisse um incisivo.
    Deixa-me que te diga: Com os 60, que conto, na passagem,
    já não estou pra ti virado.
    Mas, se é esse teu melhor gozo, envolve-me de blandícias,
    revolvendo-me p’lo bandulho.
    Estou farto.
    Desafias-me a que nem a relance te suspeite.
    Tal nojo me mete a tua baba.
    Tais emboscadas tramas a poético transporte, meu tesouro.
    Cerre os dentes firme, Cego A Alta Luz.
    A que aspiras, mansarrão?
    Abre os olhos e vê:
    Esses não são já os melhores dias.
    Ateimas ’inda?
    Continuas, boi boizinho?
    Pertinaz aderente,
    sei que só sumirás quando, por minha vez, me der o fora.
    Espera sentado,
    que vou ali, e já venho.

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