domingo, 30 de maio de 2010

MOV04100-poema do boi da paciência português de ochoa.MPG

1 comentário:

  1. ‘Meus amigos, que desgraça nascer em Portugal.’

    Boi da paciência, que sempre reencontro,

    amo-te, e detesto-te até ao vómito.

    Quisesse afagar-te os vis corninhos,

    e ririas melífluo, como quem padece coceguinhas.

    Conheço-te bem demais, engenhoso atávico ruminante.

    Conheço e reconheço ‘teu minucioso e porco ritual.’

    E ainda aí estás, a ti igual: Anos 0, anos 60.

    Marras agora, como já antes marravas,

    no tempo em que te detectaram O’Neill e Ramos Rosa.

    Pronto resmungas, desmaias, fazes que desfaleces;

    como em derriço; como se te sorrisse um incisivo.

    Deixa-me que te diga: Com os 60, que conto, na passagem,

    já não estou pra ti virado.

    Mas, se é esse teu melhor gozo, envolve-me de blandícias,

    revolvendo-me p’lo bandulho.

    Estou farto.

    Desafias-me a que nem a relance te suspeite.

    Tal nojo me mete a tua baba.

    Tais emboscadas tramas a poético transporte, meu tesouro.

    Cerre os dentes firme, Cego A Alta Luz.

    Que aspiras ’inda, mansarrão?

    Abre os olhos e vê:

    Esses não são já os melhores dias.

    Ateimas ’inda?

    Continuas, boi boizinho?

    Pertinaz aderente,

    sei que só sumirás quando, por minha vez, me der o fora.

    Espera sentado,

    que vou ali, e já venho.

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