terça-feira, 1 de junho de 2010

Convulsão

1 comentário:

  1. Convulsão, Cerejais, 4.i.1970:

    Forte e subterrânea convulsão, repentino estrondo surdo:

    De sua força íntima, brusca uma árvore se eleva do chão.

    O anjo, com a espada, desce a últimos confins da Terra,

    transportando na hora, à geral devastação, a ira e o furor justo de Iahweh.

    Seu escuro, fundo olhar fixa o então dormente mortal,

    que num estremecimento do susto se fere da estranha, benévola mágoa.

    O Filho do Homem, esplêndida nudez trespassada,

    abraça, num vaso transbordante, muitos meninos abortados,

    derramando leite, mel, um doce pão a saciar-lhes as mortes.

    O pão é dor do homem vivo, sanguíneo vinho dum flanco,

    tortura que vitima o pacífico anho.

    Logo desperta, enxugando lágrimas, o peregrino

    do oriente, regressado aos seus.

    O Livro a donzela relê num milésimo fragmento de segundo;

    altíssima, olhos decaindo sobre o tecido texto, assiste as insuspeitas

    oscilações à alma, na feliz ultrapassagem da eternidade.

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