MOV03191_As Cidades de Israel_Manuel Pedra_Ângelo Ochôa (2).MPG Sereno, no plano fundo do lago, o sono brando do Outono, o abandono. - Perdeu o nome a existência, disco rolando incansável. Na aguarela do Mendão a praia em ébria insolação. - Alegria de Amar: Os noivos na madrugada deitaram fora os poemas: Tinham resolvido o amor, as janelas rasgadas: Resolveram, decididamente resolveram. Os olhos ventoinhas denunciam terra. Não faz bem às pessoas certas ver nudez. Morderiam as bocas todos os dias. Encontraram-se a primeira vez sós num espaço. - A aldeia em pensamento; a que distância as casas mais próximas da sua; a angustiada voz desperta; a rapariguinha, o prado adiante; pedrinhas da calçada a desinquietarem infância. - Vou a um outro dia, com pernas para a frescura. De deambular por fora, longe do meu canto, esqueci, há muito, a humilhação poética. Diluí-me em abraço, no povo, mais do que na letra. Evado-me de idear quanto me nega. Vou esquecer-me de emendar a fantasia; seguir ao rés da terra p’lo tisnado dia. - Desenrolando vou a acção obscura: O amanhã trará outra cor. - Alados, nas antemanhãs, lembram a paz, a calamidade, a dor ou a redenção? Lêem o livro interminável. Umas mil vezes lêem, e relêem, para lá, o escrito. Porque lhes apraz estão de pé. Cada criança ferem com essa força que nasce coração.
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ResponderEliminarSereno,
no plano fundo
do lago, o sono brando
do Outono, o abandono.
-
Perdeu o nome a existência, disco rolando incansável.
Na aguarela do Mendão a praia em ébria insolação.
-
Alegria de Amar:
Os noivos na madrugada
deitaram fora os poemas:
Tinham resolvido o amor,
as janelas rasgadas:
Resolveram,
decididamente resolveram.
Os olhos ventoinhas denunciam terra.
Não faz bem às pessoas certas ver nudez.
Morderiam as bocas todos os dias.
Encontraram-se a primeira vez sós num espaço.
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A aldeia em pensamento;
a que distância
as casas mais próximas da sua;
a angustiada voz
desperta;
a rapariguinha,
o prado adiante;
pedrinhas da calçada
a desinquietarem infância.
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Vou a um outro dia,
com pernas para a frescura.
De deambular por fora,
longe do meu canto,
esqueci, há muito,
a humilhação poética.
Diluí-me em abraço,
no povo, mais do que na letra.
Evado-me de idear
quanto me nega.
Vou esquecer-me
de emendar a fantasia;
seguir ao rés da terra
p’lo tisnado dia.
-
Desenrolando vou
a acção obscura:
O amanhã trará
outra cor.
-
Alados,
nas antemanhãs,
lembram a paz,
a calamidade,
a dor
ou a redenção?
Lêem o livro
interminável.
Umas mil vezes lêem,
e relêem,
para lá,
o escrito.
Porque lhes apraz estão de pé.
Cada criança ferem com essa força
que nasce coração.