A esperança de ver-te, se der por isso.Étaix, sábado, noite, circo,rumor duns pombos,sentamo-nos saltimbancosna tromba do elefante anedótico.Sós as árvores não constam.Pedis-me um abraço, não sei, isto é cansaço.Tu a atravessares apressada com um sorriso perseguido.-‘Aujourd’hui je suis loin, mais je reviendrai un jour.’Raparigas dançando num terreiro, noivos a um comboioprogramado.-Usina d’azedo silvo,um borrão negro sobre a boca.-Louco amor,teus olhos,buracos deslumbrados,irrompem dum bocado de mudez.Não precisamos de olharpra cima ou pra baixo,mas em frente.Delineamos sinistro rotineiro filme diário,figuras apagadas,que inúmeras,uma câmara sobre a cabeça,outra sobre o coração.-Ossos estaladosdos dedos,super-esquisitosdevaneios,sono inteiro,nas tuas mãos vazias.-De cerdeirosa ramaa baloiçar.-Era anjo ou lua?Terra ou céu?Caminho ou rua?Terra e céu,a minha rua.Vestia branco,ou vestia lua?Anjo branco?Mulher nua?-A avenidasubvertidapor monocórdicoarrulho.-Porque lêstrémulos aisintuis fulgurações.-‘O teu sorrisoleva-me semprepara junto do mar.’Ventre magnífico,noite genetriz,onde tudo acaba e principia,onde ocorre o claro dia.-Algo avoluma distâncias, dá relevo à montanha.Que haverá longe ou perto que destrua exílios?Paredes em pedra, a cal da cor,invólucros da solidão sonhada.-As várias palavraspor estantes debatendo-se,medicamentos certosda sonolência química.-Frescas, simples,tais quais coisas,aí mesmo à mente,a estudar sempre,a desvelar de outrasinesperadas palavras.-Fui padrinho do Zeferino,e minha irmã madrinha.Com nossos verdes anossentíamo-nos investidos.Hoje meu afilhadoé engenheiro da Câmara.Minha irmã partiu sem jeito,dum tumor no cérebro.Por mim aguardo o que vierpara que conste poeta.-Pertinho de Coimbra um missionário do Lestedeu-me uma boleia e na despedidaum ícone muito especial, que guardei.Tinha uma oração para o coração.Dizendo-a adormecia e acordava,numa repetição contínua.-Conviemos em que o falar descambava;concordámos em passar p’las brasas;quanto ao que tivéssemosa acrescentarnão importava.-A rede balançana seiva,na árvore,no vento,na dança,na erva,na aragem,o corpo sovado.-O bom papa Joãoante o interlocutorbem ouvia,intimamentesopesandoque dissesse.-Pipilaremnegrasandorinhasdum límpidocristalpelo ardesmaios.-Joga-se ténis;baterem-se bolas,a ecos espaçados;nenhum telefonemanas imediações;portas fechadas contra a rua;provisões, com os vizinhos,nos elevadores;televisão desligada;réstia campestre de paisagem;máquina da escrita arrumada;o inenarrável antigamente dum andar.-Talvez que certos gestos não contem,mas que, palavras duma palavra, povo emergindo,noutro astro, sem qualquer prazo, juntos, acampemos.Necessário consumir o violento grito:Atrocidades, tortura os poemas clamam.Paulo VI ofereceu tabaco a Podgorni em reunião à mesma mesa.Porque há o Vietname, electricidade,guerra química, marés negras,refugiados, desalojados, perseguidos, deslocados, napalm,genocídio, carbono, bombas, estátuas, dias e noites sem sono,pessoas detidas por ideias.Navegar estes tempos com uma doença ansiosaserve de entretenimento contra silêncios mastigados.http://www.youtube.com/watch?v=VXmrDpTW_uQ MOV03365_AINDA CIDADES DE ISRAEL_ÂNGELO OCHÔA_ (2).MPG(80MB)
A esperança de ver-te, se der por isso.
ResponderEliminarÉtaix, sábado, noite, circo,
rumor duns pombos,
sentamo-nos saltimbancos
na tromba do elefante anedótico.
Sós as árvores não constam.
Pedis-me um abraço, não sei, isto é cansaço.
Tu a atravessares apressada com um sorriso perseguido.
-
‘Aujourd’hui je suis loin, mais je reviendrai un jour.’
Raparigas dançando num terreiro, noivos a um comboio
programado.
-
Usina d’azedo silvo,
um borrão negro sobre a boca.
-
Louco amor,
teus olhos,
buracos deslumbrados,
irrompem dum bocado de mudez.
Não precisamos de olhar
pra cima ou pra baixo,
mas em frente.
Delineamos sinistro rotineiro filme diário,
figuras apagadas,
que inúmeras,
uma câmara sobre a cabeça,
outra sobre o coração.
-
Ossos estalados
dos dedos,
super-esquisitos
devaneios,
sono inteiro,
nas tuas mãos vazias.
-
De cerdeiros
a rama
a baloiçar.
-
Era anjo ou lua?
Terra ou céu?
Caminho ou rua?
Terra e céu,
a minha rua.
Vestia branco,
ou vestia lua?
Anjo branco?
Mulher nua?
-
A avenida
subvertida
por monocórdico
arrulho.
-
Porque lês
trémulos ais
intuis fulgurações.
-
‘O teu sorriso
leva-me sempre
para junto do mar.’
Ventre magnífico,
noite genetriz,
onde tudo acaba e principia,
onde ocorre o claro dia.
-
Algo avoluma distâncias, dá relevo à montanha.
Que haverá longe ou perto que destrua exílios?
Paredes em pedra, a cal da cor,
invólucros da solidão sonhada.
-
As várias palavras
por estantes debatendo-se,
medicamentos certos
da sonolência química.
-
Frescas, simples,
tais quais coisas,
aí mesmo à mente,
a estudar sempre,
a desvelar de outras
inesperadas palavras.
-
Fui padrinho do Zeferino,
e minha irmã madrinha.
Com nossos verdes anos
sentíamo-nos investidos.
Hoje meu afilhado
é engenheiro da Câmara.
Minha irmã partiu sem jeito,
dum tumor no cérebro.
Por mim aguardo o que vier
para que conste poeta.
-
Pertinho de Coimbra um missionário do Leste
deu-me uma boleia e na despedida
um ícone muito especial, que guardei.
Tinha uma oração para o coração.
Dizendo-a adormecia e acordava,
numa repetição contínua.
-
Conviemos em que o falar descambava;
concordámos em passar p’las brasas;
quanto ao que tivéssemos
a acrescentar
não importava.
-
A rede balança
na seiva,
na árvore,
no vento,
na dança,
na erva,
na aragem,
o corpo sovado.
-
O bom papa João
ante o interlocutor
bem ouvia,
intimamente
sopesando
que dissesse.
-
Pipilarem
negras
andorinhas
dum límpido
cristal
pelo ar
desmaios.
-
Joga-se ténis;
baterem-se bolas,
a ecos espaçados;
nenhum telefonema
nas imediações;
portas fechadas contra a rua;
provisões, com os vizinhos,
nos elevadores;
televisão desligada;
réstia campestre de paisagem;
máquina da escrita arrumada;
o inenarrável antigamente dum andar.
-
Talvez que certos gestos não contem,
mas que, palavras duma palavra, povo emergindo,
noutro astro, sem qualquer prazo, juntos, acampemos.
Necessário consumir o violento grito:
Atrocidades, tortura os poemas clamam.
Paulo VI ofereceu tabaco a Podgorni em reunião à mesma mesa.
Porque há o Vietname, electricidade,
guerra química, marés negras,
refugiados, desalojados, perseguidos, deslocados, napalm,
genocídio, carbono, bombas, estátuas, dias e noites sem sono,
pessoas detidas por ideias.
Navegar estes tempos com uma doença ansiosa
serve de entretenimento contra silêncios mastigados.
http://www.youtube.com/watch?v=VXmrDpTW_uQ
MOV03365_AINDA CIDADES DE ISRAEL_ÂNGELO OCHÔA_ (2).MPG(80MB)