angeloochoa poesia poemas azeite mel fumo rapé som desertos diotima sebastiao da gama arrábida azeitão vila fresca aranha teia arlequins
Estreme decifrador dos desertos, só a linguagem musical lhe movia algo. Passou a vida toda encostado a fundo som. Do sonho que o tomou absorto despertou rigorosamente morto. - Diotima, que pousaste em mim o exacto beijo da beleza. Resta-me fechar a porta. -
Uma tesoura de mola na sequência. Dum tombo cai o professor. Um tinteiro vazando-se. Ossos doridos a uma faca de espaços. Finos fios fundando sulcos. Uma rapariga a andar com rosas rubras. Um som apenas som a repetidas canções. Pensamentos tecidos de vacuidade. Ansiamos por um dia bom desde manhã à noite. - Os sons enchem o poema, moram dentro, serenidade construtora; entranhada pólvora para paz, tudo fecundam; se lhes resolve a trama que impregnam; sobem à tona e dizem arquitectura a erguer-se. Será sua finalidade o emerso hoje? - Nas íngremes encostas batidas do sol, às oliveiras, por grossas mãos varejadas, tombavam para chão das extensas lonas rebuscados frutos; a quente, no lagar, prensas esmagavam, esteiras chorando, gorda espessura com pegajoso suco; caroços, já desfeita baga, ardiam no lume; pra fundas talhas escorria loiro fio. - Veleiros, não ao sabor do vento ou das marés, sob ágeis pulsos derivam. - ‘Aranhinha a tecer a teia.’ Aos saltos, quais ágeis galgos, folgando pujantes arlequins. -
Sebastião, poeta moço, enquanto estiveste connosco viveste lindo sonho. Ao romper a mansa aurora, vou buscar, nas florinhas esquecidas da tua Serra-Mãi, a canção que és, num redivivo eco. - ‘A uma hora destas dependurando-se do cigarrinho na plena burocracia.’ Desfaça-se da porcaria, descontraia, respire fundo, rasgue alegrias. - Velhos, grosso ranho, pés nos socos, meias de espessa lã, tossem fundo, e inspiram pachorrento rapé. - Cai em meus braços, cabecita louca, logo te dou mel.
MOV03277_Caleidoscópio_por_Ângelo Ochôa.MPG(112MB)
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angeloochoa poesia poemas azeite mel fumo rapé som desertos diotima sebastiao da gama arrábida azeitão vila fresca aranha teia arlequins
Estreme decifrador dos desertos,
só a linguagem musical
lhe movia algo.
Passou a vida toda
encostado a fundo som.
Do sonho que o tomou absorto
despertou rigorosamente morto.
-
Diotima,
que pousaste
em mim
o exacto beijo da beleza.
Resta-me fechar a porta.
-
Uma tesoura de mola na sequência.
Dum tombo cai o professor.
Um tinteiro vazando-se.
Ossos doridos a uma faca de espaços.
Finos fios fundando sulcos.
Uma rapariga a andar
com rosas rubras.
Um som apenas som a repetidas canções.
Pensamentos tecidos de vacuidade.
Ansiamos por um dia bom
desde manhã à noite.
-
Os sons enchem o poema,
moram dentro,
serenidade construtora;
entranhada pólvora para paz,
tudo fecundam;
se lhes resolve a trama que impregnam;
sobem à tona e dizem arquitectura a erguer-se.
Será sua finalidade o emerso hoje?
-
Nas íngremes encostas batidas do sol,
às oliveiras, por grossas mãos varejadas,
tombavam para chão das extensas lonas
rebuscados frutos; a quente, no lagar,
prensas esmagavam, esteiras chorando,
gorda espessura com pegajoso suco;
caroços, já desfeita baga, ardiam no lume;
pra fundas talhas escorria loiro fio.
-
Veleiros,
não ao sabor do vento
ou das marés,
sob ágeis pulsos
derivam.
-
‘Aranhinha
a tecer a teia.’
Aos saltos,
quais ágeis galgos,
folgando
pujantes arlequins.
-
Sebastião,
poeta moço,
enquanto estiveste connosco
viveste lindo sonho.
Ao romper a mansa aurora,
vou buscar, nas florinhas
esquecidas da tua Serra-Mãi,
a canção que és, num redivivo eco.
-
‘A uma hora destas
dependurando-se do cigarrinho
na plena burocracia.’
Desfaça-se da porcaria,
descontraia, respire fundo,
rasgue alegrias.
-
Velhos, grosso ranho,
pés nos socos, meias de espessa lã,
tossem fundo, e inspiram pachorrento rapé.
-
Cai em meus braços,
cabecita louca,
logo te dou mel.