sábado, 26 de junho de 2010

MOV03273 Ângelo Ochôa redizendo 3 poemas seus.MPG

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  1. MOV03273 Ângelo Ochôa redizendo 3 poemas seus.MPG(90.9MB)
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    Corre o vento,
    e vem até aqui.
    Corre o vento,
    e fica dentro em mim.
    Bem podes correr,
    vento da não aventura.
    Bem podes anunciar-me o lugar.
    Pois aqui sopras,
    à precária estadia.
    Abro-te todas as portas,
    ar que a vida me dá.
    Nenhum obstáculo te detém.
    Transportas-me, nuvem, à praça onde sonho.
    Lá a casa me frequentas, aragem destes instantes.
    Vento dos ligeiros sustos,
    pudesses tu escrever meu último poema.
    Que longes varres agora, verdadeira liberdade?
    -
    ‘Um dia, pra Deus, mil anos.’
    111333 milénios volvidos,
    o sobejamente conhecido poeta,
    humano dentre os muitos filhos de Abraham,
    sic dixit: Já decorreu o lapso de tempo
    que demorou a extinguir-se a débil luzinha
    provinda da mais longínqua das estrelas;
    tenhamos agora revivida consciência do nosso último destino.
    Os menininhos aprendizes das letras confundiam na cartilha
    o nome impresso do vate, em tudo igual aos muitos mais nomes,
    com o do avô lá de casa ou o da andorinha gémea ou o do fiel canídeo,
    facto que não constituía, para as superiores instâncias, real preocupação:
    Em qualquer parte dos conhecidos planetas
    não escasseava a bambinos
    tempo e tempo pra brincar.
    Hoje em dia pouco ou nada sabemos
    quanto aos pormenores relevantes
    das vidas sumidas dos artistas;
    no respeitante àquele com quem nos ocupávamos
    há a anotar ter passado por banais constrangimentos:
    Por não ter escrito nenhum soneto,
    ou por não haver abraçado a sério a carreira diplomática.
    -
    Scherzo:
    Dêem-me a água e o negro café após sono,
    dêem-me música, que m’intervale goles bebidos, e baforadas,
    que entrementes se me engolfam pulmões dentro.
    Café, água, música, cigarros
    e, claro está, a minha mesa do canto.
    Por favor, com este calor, não se esqueçam de ligar a ventoinha.
    Aqui respiro o meu ar, com o ar do meu cigarro,
    raízes minhas, que também vivo no pó.
    Oh, o egoísmo de ser-se como vento ou chuva,
    e fruir-se pura e simplesmente.
    Não me puxem pra trás a cadeira enquanto me sento.
    Convenhamos em que tais brincadeiras,
    dum péssimo mau gosto,
    só cabem em certas fitas.
    O resto está certo como a morte,
    ou a como força da vida,
    como a liberdade, o amor, ou a graça.
    As contas ficam em dia
    ao desembolsar as exactas moedinhas
    com óbvio ‘obrigado’ p’lo serviço.

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