MOV03273 Ângelo Ochôa redizendo 3 poemas seus.MPG(90.9MB) angeloochoa poesia poemas vento liberdade estadia milénios um dia Deus tempo eternidade café moedinhas assento serviço música cigarros ventoinha ar
Corre o vento, e vem até aqui. Corre o vento, e fica dentro em mim. Bem podes correr, vento da não aventura. Bem podes anunciar-me o lugar. Pois aqui sopras, à precária estadia. Abro-te todas as portas, ar que a vida me dá. Nenhum obstáculo te detém. Transportas-me, nuvem, à praça onde sonho. Lá a casa me frequentas, aragem destes instantes. Vento dos ligeiros sustos, pudesses tu escrever meu último poema. Que longes varres agora, verdadeira liberdade? - ‘Um dia, pra Deus, mil anos.’ 111333 milénios volvidos, o sobejamente conhecido poeta, humano dentre os muitos filhos de Abraham, sic dixit: Já decorreu o lapso de tempo que demorou a extinguir-se a débil luzinha provinda da mais longínqua das estrelas; tenhamos agora revivida consciência do nosso último destino. Os menininhos aprendizes das letras confundiam na cartilha o nome impresso do vate, em tudo igual aos muitos mais nomes, com o do avô lá de casa ou o da andorinha gémea ou o do fiel canídeo, facto que não constituía, para as superiores instâncias, real preocupação: Em qualquer parte dos conhecidos planetas não escasseava a bambinos tempo e tempo pra brincar. Hoje em dia pouco ou nada sabemos quanto aos pormenores relevantes das vidas sumidas dos artistas; no respeitante àquele com quem nos ocupávamos há a anotar ter passado por banais constrangimentos: Por não ter escrito nenhum soneto, ou por não haver abraçado a sério a carreira diplomática. - Scherzo: Dêem-me a água e o negro café após sono, dêem-me música, que m’intervale goles bebidos, e baforadas, que entrementes se me engolfam pulmões dentro. Café, água, música, cigarros e, claro está, a minha mesa do canto. Por favor, com este calor, não se esqueçam de ligar a ventoinha. Aqui respiro o meu ar, com o ar do meu cigarro, raízes minhas, que também vivo no pó. Oh, o egoísmo de ser-se como vento ou chuva, e fruir-se pura e simplesmente. Não me puxem pra trás a cadeira enquanto me sento. Convenhamos em que tais brincadeiras, dum péssimo mau gosto, só cabem em certas fitas. O resto está certo como a morte, ou a como força da vida, como a liberdade, o amor, ou a graça. As contas ficam em dia ao desembolsar as exactas moedinhas com óbvio ‘obrigado’ p’lo serviço.
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ResponderEliminarangeloochoa poesia poemas vento liberdade estadia milénios um dia Deus tempo eternidade café moedinhas assento serviço música cigarros ventoinha ar
Corre o vento,
e vem até aqui.
Corre o vento,
e fica dentro em mim.
Bem podes correr,
vento da não aventura.
Bem podes anunciar-me o lugar.
Pois aqui sopras,
à precária estadia.
Abro-te todas as portas,
ar que a vida me dá.
Nenhum obstáculo te detém.
Transportas-me, nuvem, à praça onde sonho.
Lá a casa me frequentas, aragem destes instantes.
Vento dos ligeiros sustos,
pudesses tu escrever meu último poema.
Que longes varres agora, verdadeira liberdade?
-
‘Um dia, pra Deus, mil anos.’
111333 milénios volvidos,
o sobejamente conhecido poeta,
humano dentre os muitos filhos de Abraham,
sic dixit: Já decorreu o lapso de tempo
que demorou a extinguir-se a débil luzinha
provinda da mais longínqua das estrelas;
tenhamos agora revivida consciência do nosso último destino.
Os menininhos aprendizes das letras confundiam na cartilha
o nome impresso do vate, em tudo igual aos muitos mais nomes,
com o do avô lá de casa ou o da andorinha gémea ou o do fiel canídeo,
facto que não constituía, para as superiores instâncias, real preocupação:
Em qualquer parte dos conhecidos planetas
não escasseava a bambinos
tempo e tempo pra brincar.
Hoje em dia pouco ou nada sabemos
quanto aos pormenores relevantes
das vidas sumidas dos artistas;
no respeitante àquele com quem nos ocupávamos
há a anotar ter passado por banais constrangimentos:
Por não ter escrito nenhum soneto,
ou por não haver abraçado a sério a carreira diplomática.
-
Scherzo:
Dêem-me a água e o negro café após sono,
dêem-me música, que m’intervale goles bebidos, e baforadas,
que entrementes se me engolfam pulmões dentro.
Café, água, música, cigarros
e, claro está, a minha mesa do canto.
Por favor, com este calor, não se esqueçam de ligar a ventoinha.
Aqui respiro o meu ar, com o ar do meu cigarro,
raízes minhas, que também vivo no pó.
Oh, o egoísmo de ser-se como vento ou chuva,
e fruir-se pura e simplesmente.
Não me puxem pra trás a cadeira enquanto me sento.
Convenhamos em que tais brincadeiras,
dum péssimo mau gosto,
só cabem em certas fitas.
O resto está certo como a morte,
ou a como força da vida,
como a liberdade, o amor, ou a graça.
As contas ficam em dia
ao desembolsar as exactas moedinhas
com óbvio ‘obrigado’ p’lo serviço.