terça-feira, 1 de junho de 2010

Poema1

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  1. POEMA UM
    Ruir o interior dos ouvidos -

    tabiques - areia - cal - sons esquecidos.

    Pedras sobre pedras, os dias asfixia - as palavras iguais sob o ruído.

    Abismo das folhas - Março ou Abril - o Jardim Botânico.

    Todo o peso do rosto nas costas das mãos.

    Rombos sombra - o retrato repete a abrupteza.

    Velas - borrões - gente - 4 quilómetros pela barra.

    Do mundo dos meses - telhas - papoilas - grades - tenazes.

    Telhas - côncavas - convexas - convexas - côncavas.

    Vertigem - fontes desmemoriadas - tudo - súbito.

    A raiz dos ouvidos - árvores - ontem - candeeiros - sinos.

    Exaustão - urzes onde os nervos verdes.

    Uma vez um olhar - jogo água - as cordas febris - o violino.

    Tijolos - estores - redes - andares de casas -

    espaço escuro ante a parede branca.

    Aereza - torpor surdo no cérebro - o ruído de sílabas dentro de mim.

    Triângulos - trapézios - Mozart. Montes - lamas - dorsos - dromedários.

    Tons - Klee - the musician!

    Estes versos torpes - malmequeres - muros - vento - mudez.

    O coração bater num cubo fechado - corredores sob corredores dor.

    Horas trevas - objectos limite - descenso dos sons num poço sem fundo -

    três vezes Z cinzento.

    Luzes facetando-se - um clown equilibrando-se num arame cortante -

    quase nada - infinitamente.

    Os dias seguidos - agudezas - dedos - losangos - vidros.

    Crueza - grãos poeira - partículas caspa - caracteres tipográficos.

    O soalho - agulhas - sons opacos -

    os nomes das pessoas conhecidas nas paredes.

    Os nós dos ossos dos dedos - o peso dos ombros.

    Roseiras - barro - lájeas - garagens - ouvidos ar.

    Os cabelos soltos - a nuca - nunca - sim - hoje.

    Verde a relva - verde a relva - verde.

    I know your name. Your name Is. I know. You know. I know.

    Os ferros - os cimos altos - eu sei - não sei - as horas deslumbradas.

    De átomos átomos - de constelações constelações.

    Obsessão dos sons - os cotovelos roendo-se nas janelas.

    A manhã - a cidade - larga a avenida.

    O telhado - da chaminé a cal - o beiral de lata -

    a lonjura branca - a gelosia. O ângulo da mesa - o azul e…

    Flamingos - lagos - voos - cortinas - dedos - unhas.

    Pouco a pouco o poema trabalho.

    Braços - tijolos - redes - mínimas gotículas - duma criança a fala.

    Estradas - bicicletas - letras.

    Tectos - estantes - portas - carris - lápis - estrela.

    Escusado dizer noite.

    Na areia o sol por entre os ramos d’ar.

    Escadas - chuva - resto de rio que vi.

    As mãos - o alcatrão - um operário - o corpo - a sombra - um cigarro.

    Aço - tábuas - inexistência. Ponte - longe perto vultos - areal.

    As palavras que faltavam - as palavras que faltavam -

    Maria - Manuel - Deus connosco.

    Rapariga - rosto - olhar - uma vez - para sempre.

    Cândido Portinari Cândido - duma cor doutra - uma cor noutra - neutra.

    Ouvi meu canto - ouvi meu canto - ouvi.

    Irrepetíveis voos - um número indefinido de versos desiguais.

    Canaviais - juncos - vento - vimes. Òòa - aòr - o terraço.

    Esguios choupos no ar nublado.

    A instantes existo e o azul - a terra barrenta além - a pele.

    O poema sucedendo-se sob estrelas.

    Restolho - fragas - estevas. O vasto negrume da extensa noite.

    Aéreos suspensos lapsos.

    Ausência - montes - o poema quarto. Os sapatos - os óculos - os anjos.

    Um naco suado de pão. Ámen.

    O tempo - do Deus o tempo. Esse tempo - este tempo.

    Kz-kv-z. Oh.

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