terça-feira, 29 de junho de 2010

MOV03333 Alguns Lidos Clássicos_por_Ângelo Ochôa.MPG

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  1. Lidos Clássicos
    ‘’Té Santa Clara, além ar.’
    A graça faz-nos ver.
    Seus anjos súbitos, nas antemanhãs.
    Obstinar-se a todos os rumos.
    Investir, olhos postos no longe a vir,
    instantes p’lo caminho.
    As horas de ponta na cidade:
    Mergulhar o humano, corpo ascendendo no pó,
    em direcção ao poente, a clamar escombros.
    Forçoso arrancar a grisu férreo bairros tristes.
    -
    ‘Tiram ouro do nariz os poetas.’
    Atraem para suas janelas ar puro a remotas paragens:
    A plenos pulmões inspiram dos cumes himalaicos.
    Soletram o desconhecido.
    Constrange-os a humana miséria
    e por p’los próprios versos a não verem resolvida.
    Dizem persistentemente paz
    por condoídas estranhíssimas expressões.
    -
    P’la janela rasgada
    réstia arborizada:
    Ver-se transparecer
    o que à face vem florir.
    -
    ‘A vida é feita de nadas,
    grandes serras paradas.’
    Fadigas, cantares, gestos,
    entrega; mãos afagando;
    cismar fascinada solidão;
    manso pastar d’alimárias;
    cuidados desmedidos,
    lidas esquecidas;
    aligeirar o olhar
    até ao ar aberto;
    colher, flor na haste,
    o tempo dado.
    -
    Aves divagam lonjura,
    pairam sobre planura,
    enlevam-me,
    desvanecem-se
    pra lá do ar alado,
    deixando-me saudoso
    do seu voado curso,
    antes sonhado.
    -
    ‘Não era o vulgar brilho da beleza,
    era outra luz, era outra suavidade.’
    Que me não esqueça;
    irmã comigo vá;
    envolva-me inteira;
    acolha-me meiga;
    abrigue-me a escuro canto.
    -
    ‘Sôbolos rios que vão,
    por Babilónia, me achei.’
    Onde, atido à confusão,
    me derivaram
    lágrimas
    por Sião.
    -
    ‘Yo solo vivo
    dentro de la Primavera.
    Los que veis por fuera
    qué sabéis
    de su centro?’
    Se o eclodir solar
    se desvanece,
    na ida claridade
    ainda me fundo.
    -
    ‘O silêncio é tão longo
    que os cães
    enlouquecem nas ruas.
    E as noites
    ficarão imensas.’
    Do Jorge de Lima
    o povoado trecho em eco,
    transcendendo plausíveis glosas,
    nua verdade
    duns uivos,
    uns automóveis,
    por fins dum árido Junho.
    -
    ‘Eu cantarei d’amor tão docemente,
    em uns termos em si tão concertados,’
    que os distantes ais rememorados
    não deverão já mais nos ser presentes.
    Olhos, mãos, vozes às claras madrugadas
    lançando-se, repetindo-se, nos darão
    o enlevo moído, saudoso, ausente.
    Oásis indiciam brandos esgares.
    Céu carinha, continuemos demanda.
    Só do amor feridos figuram-se esquecidos
    pousos a advir; aos quais indiferentes
    vagabundamos tidos na pálida ideia
    da luminosa estada; até a fim movidos
    no livre acto refeitos nos alongamos.
    -
    ‘Vi uma noiva
    entrar num automóvel.’
    Seu esguio corpo
    molemente matando-me
    a crónica depressão.
    -
    Que choras, amiga,
    à fonte fria?
    Amores hei.
    Alba lieiro.
    Que pranteias,
    amiga,
    no jorrar da nascente?
    De amores só.
    Alba vai levaando.
    Amores empeçados
    sem tento nem fim
    choro por mim.
    Alba asinha.
    -
    O poeta das olheiras chorosas:
    ‘Só, incessante, um som de flauta chora.’
    Antiga tristura, que lágrimas devoras,
    o sol há vasto tempo erguido,
    porque não foste embora?
    ‘E, no longe, os barcos das flores?’
    Pétalas leves sobr’alma derramadas.
    Será que morro exausto,
    cumprida e ida a faina?
    Ou é que o pranto sara,
    e o pavoroso tremor extingue?
    Quem sonha alto agora?
    Astros alcança?
    Por quais silêncios mora?
    -
    ‘Aquela triste e leda madrugada,
    enquanto houver no mundo saudade’
    quero que quede sempre demorada
    nos meus olhos abertos porque nada.
    Campos verdes, na clara luz banhados,
    arvoredos, automóveis, idos passantes pasmados,
    roucos sons aos dos pássaros acordados mistos.
    E rosas, e aromas, e tons, e amores de meus amores.
    Se o dia rompe à mesma hora que a flor,
    e a neve é véu de bodas sobrevoando,
    madrugada rompante, dos meus dias,
    inclines minha alma a jubiloso fervor.
    Acenam asas voos p’lo monte.
    -
    ‘Se não me lembrar de ti,
    Jerusalém das alegrias.’
    Leveza, alados voos,
    ternura, enlevo, olhar,
    o dentro das tuas portas,
    revolto resplendor.
    Íntimo anelo, ascensão,
    desde já vista eternidade.
    -
    ´

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