sábado, 19 de junho de 2010

MOV03191_As Cidades de Israel_Manuel Pedra_Ângelo Ochôa (3).MPG

2 comentários:

  1. MOV03191_As Cidades de Israel_Manuel Pedra_Ângelo Ochôa (3).MPG
    Será que os anjos pisam a terra do pão fluindo ao vento?
    Se pisam, é assim como se voassem, com sua espécie de ar.
    Constam de quê? Sopro? Imo trémulo? Só leveza?
    Velando solícitos subtilezas íntimas indiciam.
    -
    Guia-te o sonho o desassombro,
    aladas presenças sobre pálpebras;
    com salivado pão te reconheces.
    -
    Do crepitante lume:
    Voltas que dê aqui regresso.
    E afãs se esvaem.
    -
    Desequilibra-se e cai
    o regente de orquestra.
    -
    De bem longe vem,
    e está à porta, o homem,
    cabelos brancos,
    rugas cavadas, testa alta.
    Traz paz o homem.
    Deixem-no a caminho
    até para lá da porta.
    -
    Escurecendo a cidade exaustamente,
    as ruas das casas arrefecem olhos;
    e afirmam-se nuas as pedras.
    -
    Mordi um dos teus cabelos.
    Vento agora?
    Sim, porque a noite,
    sim, porque a manhã.
    Éramos os dois
    jovens quaisquer,
    e os carris precisamente.
    -
    O mar
    nos ouvidos,
    durmo;
    se
    entretanto
    acordo.
    -
    Brando ser,
    poema
    pleno,
    flor
    leve,
    breve,
    à tona
    de ar,
    para lá
    de monte
    e mar.
    -
    Montes
    dormentes,
    giestas
    vergando-se;
    uma fonte
    na neve;
    imensa urze;
    verdes
    castanheiros,
    ouriços
    carregados.
    -
    Entretecido nas pequenas rotinas,
    tais como barba, banho, café,
    retomo o fio à quotidiana sequência.
    -
    Mulher Mãe todos redime
    para os braços em sangue do Filho,
    a erguer-nos dum chão de baionetas.
    -
    De hoje em diante, José,
    a ternura, o esforço,
    o Abril nítido repetido;
    até quando, secreto sonho,
    acordar o enigma a nos matar.
    -
    Alegria profunda,
    eis a verdade,
    um menino inclinado
    prà parede.
    -
    Som ante a mesa, lisa frieza,
    manhã jornal, povo espaço,
    percorrendo-se.
    -
    O amante dos tapetes
    convive com as noites.
    O apaixonado das águas
    ressona profundamente.
    -
    Adormecida
    a longa tarde,
    na chinfrineira
    do bar me afundo.
    -
    Largo de Jesus
    à chuva dum Verão,
    distanciando-se a
    pequena mão
    da menininha,
    num aceno ao pai,
    que resolve
    pasmos estremecidos.
    -
    Pena é
    que a agenda aponte as emergências,
    o contínuo divertimento, mas não a determinação
    -
    Poesia
    insinuas,
    se horror
    te domina?
    -
    Uma, duas flores lilás,
    num retrato da infância,
    na carteira de trazer;
    a lâmpada incidindo
    na cara entalada,
    a sombra rodando
    sobre a mesa;
    o segmento talhado rigorosamente,
    o aparo, à amarga indiferença;
    a nuca é um ponto muito vivo,
    disse, e voltou-se, o amigo;
    os braços doem,
    o psiquiatra é um senhor
    envergonhado.
    -
    ‘He was a friend of mine.
    He never knew my name.’
    Ir a outros dias,
    sinos tangendo,
    chilrar dúbio
    na madrugada,
    seguir a teimar paz.
    -
    Deparando-se com
    erros sintácticos,
    sem se importar com a testa,
    sem literatura,
    o último poeta evidentemente escreve:
    Meu país, morto sol, pão exangue,
    poema exílio, dolorida mágoa,
    fúria térrea, doido amor,
    neve ardendo em mãos estafadas.
    -
    À sombra de árvore
    alguém descansa,
    bambinos sumindo-se
    pra denro da folhagem.
    -
    Dentro,
    ouço e
    sento-me;
    retoma-se
    a movimentos
    espaçados
    a mesma
    imensa mesa.
    -
    A flor nua
    no ecrã
    desenrola
    anti-enredos.

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  2. -
    Deitados na palha, na eira,
    ao bafo quente daquele Verão,
    olhos ao céu estrelado,
    rumávamos a amotinados lumes.
    -
    Fazemos uma grande concha,
    dedos entrecruzados.
    Os pescadores, por perto,
    perguntam-nos coisas.
    Cobrem-nos com redes a tristeza.
    Trazem-nos dos seus raros caranguejos.
    -
    Onde és,
    além do teu lugar,
    nem pensando,
    como abalada.
    -
    As rosas
    brancas
    beijam-nos
    inesperadas.
    -
    Tanto enlevo
    termina nos teus dedos.
    Somente teu olhar irradia dia.
    -
    Chuva no alcatrão,
    alma latejante.
    Descobri contigo
    a excepcional
    prossecução.
    -
    A moça me espera,
    vou levá-la a passear,
    palavras não contam,
    conta é viver,
    não se me atrase o poema.
    -
    Sucederem-se
    abruptas
    supitâneas
    esquinas.
    -
    Querer bem a torpes aranhões,
    num oficioso vagabundar -
    roubassem-nos a casa -
    ficava o luar -
    chato o piolho e o cogitar.
    -
    Manhã serena,
    Stockhausen mandado pra debaixo da cama;
    o céu, igual a uma mulher amodorrada,
    cadela com o cio.
    -
    Tenho para ti que o cinamomo -
    tronco, tusa, árvore de dificílima declinação -
    te somes estelar -
    talvez sim - ou talvez sim -
    tenho para ti que os concertados gestos…
    -
    Damo-nos conta que somos aquém escrito, visto que
    os maços do tabaco não nos dizem imprimidos os poemas.
    Embarcações, monte, Viena, Praga,
    Budapeste, pó, neblina.
    Confusão ocorre ao explicar
    como morro enfermo nos teus braços.
    -
    Percorres ruas,
    tristes alegrias resignadas,
    com os jornais diariamente.
    -
    Jarra à roxa luz,
    recolhimento,
    na branda mesa
    enredada renda.
    -
    Não vou dizer-te
    quanto te amo;
    sabe-lo bem,
    doutro dia, noutra estrada,
    a outra hora.
    Gente seguia sorrindo,
    cambiando multiplicadas palavras;
    nós nada dizíamos;
    íamos, vagueando alegria,
    atrás do pó.
    -
    A esperança de ver-te, se der por isso.
    Étaix, sábado,

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