quarta-feira, 30 de junho de 2010

MOV03365_AINDA CIDADES DE ISRAEL_ÂNGELO OCHÔA_.MPG

1 comentário:

  1. Trabalhava num lugar frequentado por argelinos e indianos.

    O alojamento ficava perto da fábrica.

    O sol batia a jorros.

    A cidade, confusão, ruído, fumos,

    néon, jardins, amenidade sossegada.

    Travou amizade com Dubsveck,

    um eslavo de infância amargurada.

    Regressou depois, fazendo paragem em Marselha,

    com o Vieux Port, a Marina, a ampla Cannebière,

    a lua lindíssima sobre água.

    Tabiques, esbatidos reflexos, o melhor tempo.

    Serenidade, ondulações, suave orla.

    -

    Vertentes do pastoreio:

    Nas margens do Sabor

    a rosa ousa

    do incessante

    vaivém o rubor.

    -
    Carlo e Dora:

    Embrenhado em fumos o café.

    Carlo rascunhava uns desenhos.

    Afinal gostavam ambos de cinema, flores, iogurtes.

    Estavam a despedir-se.

    Ela levava para o quarto aquela tela azul.

    -

    A casa vazia, o quarto nu, o tijolo argamassado,

    a janela afundando-se num céu desconhecido,

    que desde um claro vão se divisava.

    -

    O dinheiro contado.

    A mala pesada.

    A muda de quarto.

    Paredes que se apertam.

    Um cão lá por fora.

    Abjecção, náusea.

    Hora de alçar.

    Zunido insistente p’lo escuro dentro.

    Quilómetros até romper manhã.

    ‘Eu Sou A Imaculada Conceição.’

    Figura iluminada num portal.

    -

    Pode sair.

    Cisnes desmaiando estagnadas eternidades;

    laranjadas num sórdido quartel por Campolide;

    monstros nas funduras marítimas da Tv.

    -

    O entardecer p’las árvores,

    suavidade, chinfrim, pardais,

    interminável, angelical melodia.

    Arrancado a um texto de Pratolini,

    um sórdido bar, onde uma mulher

    ainda jovem ingeria limonada.

    -

    A pastorinha veio às flores,

    e encontrou elefantes, malmequeres,

    papoilas, borboletas,

    a pastorinha da cara preta.

    -
    Desmaiada lua,

    não me escondas

    o rosto até à cinza,

    dá-me a sonhar

    derradeiro abraço.

    -

    Árvores magríssimas,

    arranhões, furor, crueza;

    impossível cantar senão

    após árdua jornada.

    -

    Que não esqueço

    aqueles amigos desconhecidos:

    Vieram cá a casa fazer um telefonema

    a uma hora a que os cafés fechavam.

    Que queriam pagar.

    E entraram, e saíram; entraram, e saíram.

    Mas arrecadem os trocadinhos.

    -
    http://www.youtube.com/watch?v=MvUpJvllvD0
    MOV03365_AINDA CIDADES DE ISRAEL_ÂNGELO OCHÔA_.MPG(49.7MB)

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