Trabalhava num lugar frequentado por argelinos e indianos.O alojamento ficava perto da fábrica.O sol batia a jorros.A cidade, confusão, ruído, fumos,néon, jardins, amenidade sossegada.Travou amizade com Dubsveck,um eslavo de infância amargurada.Regressou depois, fazendo paragem em Marselha,com o Vieux Port, a Marina, a ampla Cannebière,a lua lindíssima sobre água.Tabiques, esbatidos reflexos, o melhor tempo.Serenidade, ondulações, suave orla.-Vertentes do pastoreio:Nas margens do Sabora rosa ousado incessantevaivém o rubor.-Carlo e Dora:Embrenhado em fumos o café.Carlo rascunhava uns desenhos.Afinal gostavam ambos de cinema, flores, iogurtes.Estavam a despedir-se.Ela levava para o quarto aquela tela azul.-A casa vazia, o quarto nu, o tijolo argamassado,a janela afundando-se num céu desconhecido,que desde um claro vão se divisava.-O dinheiro contado.A mala pesada.A muda de quarto.Paredes que se apertam.Um cão lá por fora.Abjecção, náusea.Hora de alçar.Zunido insistente p’lo escuro dentro.Quilómetros até romper manhã.‘Eu Sou A Imaculada Conceição.’Figura iluminada num portal.-Pode sair.Cisnes desmaiando estagnadas eternidades;laranjadas num sórdido quartel por Campolide;monstros nas funduras marítimas da Tv.-O entardecer p’las árvores,suavidade, chinfrim, pardais,interminável, angelical melodia.Arrancado a um texto de Pratolini,um sórdido bar, onde uma mulherainda jovem ingeria limonada.-A pastorinha veio às flores,e encontrou elefantes, malmequeres,papoilas, borboletas,a pastorinha da cara preta.-Desmaiada lua,não me escondaso rosto até à cinza,dá-me a sonharderradeiro abraço.-Árvores magríssimas,arranhões, furor, crueza;impossível cantar senãoapós árdua jornada.-Que não esqueçoaqueles amigos desconhecidos:Vieram cá a casa fazer um telefonemaa uma hora a que os cafés fechavam.Que queriam pagar.E entraram, e saíram; entraram, e saíram.Mas arrecadem os trocadinhos.-http://www.youtube.com/watch?v=MvUpJvllvD0MOV03365_AINDA CIDADES DE ISRAEL_ÂNGELO OCHÔA_.MPG(49.7MB)
Trabalhava num lugar frequentado por argelinos e indianos.
ResponderEliminarO alojamento ficava perto da fábrica.
O sol batia a jorros.
A cidade, confusão, ruído, fumos,
néon, jardins, amenidade sossegada.
Travou amizade com Dubsveck,
um eslavo de infância amargurada.
Regressou depois, fazendo paragem em Marselha,
com o Vieux Port, a Marina, a ampla Cannebière,
a lua lindíssima sobre água.
Tabiques, esbatidos reflexos, o melhor tempo.
Serenidade, ondulações, suave orla.
-
Vertentes do pastoreio:
Nas margens do Sabor
a rosa ousa
do incessante
vaivém o rubor.
-
Carlo e Dora:
Embrenhado em fumos o café.
Carlo rascunhava uns desenhos.
Afinal gostavam ambos de cinema, flores, iogurtes.
Estavam a despedir-se.
Ela levava para o quarto aquela tela azul.
-
A casa vazia, o quarto nu, o tijolo argamassado,
a janela afundando-se num céu desconhecido,
que desde um claro vão se divisava.
-
O dinheiro contado.
A mala pesada.
A muda de quarto.
Paredes que se apertam.
Um cão lá por fora.
Abjecção, náusea.
Hora de alçar.
Zunido insistente p’lo escuro dentro.
Quilómetros até romper manhã.
‘Eu Sou A Imaculada Conceição.’
Figura iluminada num portal.
-
Pode sair.
Cisnes desmaiando estagnadas eternidades;
laranjadas num sórdido quartel por Campolide;
monstros nas funduras marítimas da Tv.
-
O entardecer p’las árvores,
suavidade, chinfrim, pardais,
interminável, angelical melodia.
Arrancado a um texto de Pratolini,
um sórdido bar, onde uma mulher
ainda jovem ingeria limonada.
-
A pastorinha veio às flores,
e encontrou elefantes, malmequeres,
papoilas, borboletas,
a pastorinha da cara preta.
-
Desmaiada lua,
não me escondas
o rosto até à cinza,
dá-me a sonhar
derradeiro abraço.
-
Árvores magríssimas,
arranhões, furor, crueza;
impossível cantar senão
após árdua jornada.
-
Que não esqueço
aqueles amigos desconhecidos:
Vieram cá a casa fazer um telefonema
a uma hora a que os cafés fechavam.
Que queriam pagar.
E entraram, e saíram; entraram, e saíram.
Mas arrecadem os trocadinhos.
-
http://www.youtube.com/watch?v=MvUpJvllvD0
MOV03365_AINDA CIDADES DE ISRAEL_ÂNGELO OCHÔA_.MPG(49.7MB)