quarta-feira, 30 de junho de 2010

MOV03365_AINDA CIDADES DE ISRAEL_ÂNGELO OCHÔA_ (2).MPG

1 comentário:

  1. A esperança de ver-te, se der por isso.

    Étaix, sábado, noite, circo,

    rumor duns pombos,

    sentamo-nos saltimbancos

    na tromba do elefante anedótico.

    Sós as árvores não constam.

    Pedis-me um abraço, não sei, isto é cansaço.

    Tu a atravessares apressada com um sorriso perseguido.
    -
    ‘Aujourd’hui je suis loin, mais je reviendrai un jour.’

    Raparigas dançando num terreiro, noivos a um comboio

    programado.
    -
    Usina d’azedo silvo,

    um borrão negro sobre a boca.

    -

    Louco amor,

    teus olhos,

    buracos deslumbrados,

    irrompem dum bocado de mudez.

    Não precisamos de olhar

    pra cima ou pra baixo,

    mas em frente.

    Delineamos sinistro rotineiro filme diário,

    figuras apagadas,

    que inúmeras,

    uma câmara sobre a cabeça,

    outra sobre o coração.

    -

    Ossos estalados

    dos dedos,

    super-esquisitos

    devaneios,

    sono inteiro,

    nas tuas mãos vazias.

    -

    De cerdeiros

    a rama

    a baloiçar.

    -

    Era anjo ou lua?

    Terra ou céu?

    Caminho ou rua?

    Terra e céu,

    a minha rua.

    Vestia branco,

    ou vestia lua?

    Anjo branco?

    Mulher nua?

    -

    A avenida

    subvertida

    por monocórdico

    arrulho.

    -

    Porque lês

    trémulos ais

    intuis fulgurações.

    -

    ‘O teu sorriso

    leva-me sempre

    para junto do mar.’

    Ventre magnífico,

    noite genetriz,

    onde tudo acaba e principia,

    onde ocorre o claro dia.

    -

    Algo avoluma distâncias, dá relevo à montanha.

    Que haverá longe ou perto que destrua exílios?

    Paredes em pedra, a cal da cor,

    invólucros da solidão sonhada.

    -

    As várias palavras

    por estantes debatendo-se,

    medicamentos certos

    da sonolência química.

    -

    Frescas, simples,

    tais quais coisas,

    aí mesmo à mente,

    a estudar sempre,

    a desvelar de outras

    inesperadas palavras.

    -

    Fui padrinho do Zeferino,

    e minha irmã madrinha.

    Com nossos verdes anos

    sentíamo-nos investidos.

    Hoje meu afilhado

    é engenheiro da Câmara.

    Minha irmã partiu sem jeito,

    dum tumor no cérebro.

    Por mim aguardo o que vier

    para que conste poeta.

    -

    Pertinho de Coimbra um missionário do Leste

    deu-me uma boleia e na despedida

    um ícone muito especial, que guardei.

    Tinha uma oração para o coração.

    Dizendo-a adormecia e acordava,

    numa repetição contínua.

    -

    Conviemos em que o falar descambava;

    concordámos em passar p’las brasas;

    quanto ao que tivéssemos

    a acrescentar

    não importava.

    -

    A rede balança

    na seiva,

    na árvore,

    no vento,

    na dança,

    na erva,

    na aragem,

    o corpo sovado.

    -

    O bom papa João

    ante o interlocutor

    bem ouvia,

    intimamente

    sopesando

    que dissesse.

    -

    Pipilarem

    negras

    andorinhas

    dum límpido

    cristal

    pelo ar

    desmaios.

    -

    Joga-se ténis;

    baterem-se bolas,

    a ecos espaçados;

    nenhum telefonema

    nas imediações;

    portas fechadas contra a rua;

    provisões, com os vizinhos,

    nos elevadores;

    televisão desligada;

    réstia campestre de paisagem;

    máquina da escrita arrumada;

    o inenarrável antigamente dum andar.

    -

    Talvez que certos gestos não contem,

    mas que, palavras duma palavra, povo emergindo,

    noutro astro, sem qualquer prazo, juntos, acampemos.

    Necessário consumir o violento grito:

    Atrocidades, tortura os poemas clamam.

    Paulo VI ofereceu tabaco a Podgorni em reunião à mesma mesa.

    Porque há o Vietname, electricidade,

    guerra química, marés negras,

    refugiados, desalojados, perseguidos, deslocados, napalm,

    genocídio, carbono, bombas, estátuas, dias e noites sem sono,

    pessoas detidas por ideias.

    Navegar estes tempos com uma doença ansiosa

    serve de entretenimento contra silêncios mastigados.
    http://www.youtube.com/watch?v=VXmrDpTW_uQ

    MOV03365_AINDA CIDADES DE ISRAEL_ÂNGELO OCHÔA_ (2).MPG(80MB)

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