sábado, 26 de junho de 2010

MOV03277_Caleidoscópio_por_Ângelo Ochôa.MPG

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  1. MOV03277_Caleidoscópio_por_Ângelo Ochôa.MPG(112MB)
    http://www.youtube.com/watch?v=kVTWw80KFRY

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    Estreme decifrador dos desertos,
    só a linguagem musical
    lhe movia algo.
    Passou a vida toda
    encostado a fundo som.
    Do sonho que o tomou absorto
    despertou rigorosamente morto.
    -
    Diotima,
    que pousaste
    em mim
    o exacto beijo da beleza.
    Resta-me fechar a porta.
    -

    Uma tesoura de mola na sequência.
    Dum tombo cai o professor.
    Um tinteiro vazando-se.
    Ossos doridos a uma faca de espaços.
    Finos fios fundando sulcos.
    Uma rapariga a andar
    com rosas rubras.
    Um som apenas som a repetidas canções.
    Pensamentos tecidos de vacuidade.
    Ansiamos por um dia bom
    desde manhã à noite.
    -
    Os sons enchem o poema,
    moram dentro,
    serenidade construtora;
    entranhada pólvora para paz,
    tudo fecundam;
    se lhes resolve a trama que impregnam;
    sobem à tona e dizem arquitectura a erguer-se.
    Será sua finalidade o emerso hoje?
    -
    Nas íngremes encostas batidas do sol,
    às oliveiras, por grossas mãos varejadas,
    tombavam para chão das extensas lonas
    rebuscados frutos; a quente, no lagar,
    prensas esmagavam, esteiras chorando,
    gorda espessura com pegajoso suco;
    caroços, já desfeita baga, ardiam no lume;
    pra fundas talhas escorria loiro fio.
    -
    Veleiros,
    não ao sabor do vento
    ou das marés,
    sob ágeis pulsos
    derivam.
    -
    ‘Aranhinha
    a tecer a teia.’
    Aos saltos,
    quais ágeis galgos,
    folgando
    pujantes arlequins.
    -

    Sebastião,
    poeta moço,
    enquanto estiveste connosco
    viveste lindo sonho.
    Ao romper a mansa aurora,
    vou buscar, nas florinhas
    esquecidas da tua Serra-Mãi,
    a canção que és, num redivivo eco.
    -
    ‘A uma hora destas
    dependurando-se do cigarrinho
    na plena burocracia.’
    Desfaça-se da porcaria,
    descontraia, respire fundo,
    rasgue alegrias.
    -
    Velhos, grosso ranho,
    pés nos socos, meias de espessa lã,
    tossem fundo, e inspiram pachorrento rapé.
    -
    Cai em meus braços,
    cabecita louca,
    logo te dou mel.

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